quarta-feira, 3 de junho de 2015

Ser campeão brasileiro é insuficiente

Muricy Ramalho em 2009, Abel Braga em 2013 e Marcelo Oliveira em 2015. O que tem em comum estes três treinadores não é só o reconhecimento, mas também, uma circunstância que parece típica e viciosa do futebol brasileiro: a demissão de técnicos campeões brasileiros. 

Ser campeão brasileiro é insuficiente

Fotos: Arquivo público e Vipcomm

Um belo dia, Muricy Ramalho, Abel Braga e Marcelo Oliveira comemoravam tranquilos e felizes a taça do campeonato brasileiro. Em comum entre eles, praticamente a falta de concorrentes diretos aos títulos. Em 2008, o SPFC passeou, o Flu em 2012 foi campeão com três rodadas de antecedência e o Cruzeiro com sobras em 2013 e 2014. Ganharam prêmios de melhores técnicos do Brasil e a torcida os idolatrava. 

Bastaram cinco meses e tudo mudou. Uma série ruim e uma desclassificação na Libertadores e os treinadores deixaram de ser bons. O Cruzeiro foi eliminado de forma cruel pelo River Plate, é verdade, e estava entre os últimos no brasileirão. O São Paulo de Muricy chegou às quartas da Libertadores de 2009 e o Flu, às quartas da de 2013.

A Libertadores acabou. E daí? Ser campeão brasileiro não é o suficiente para se manter um treinador? E que tal se ele for bi, igual Marcelo Oliveira, ou tri, igual a Muricy?

As diretorias colocam toda a fé em um campeonato com 38 participantes, o que, numa conta simples, dá cerca de 2,5% de chance para o seu time ser campeão. Ser desclassificado nas quartas-de-final parece um fim do mundo. Mesmo que seja campeão brasileiro. A estes treinadores não é permitido "falhar". Isto porque se age como se fosse culpa deles.

Trocam-se os motoristas mas as engrenagens, enferrujadas engrenagens, continuam as mesmas. 

sexta-feira, 29 de maio de 2015

O racha do futebol em 2015

O ano de 2015 pode ser um daqueles mais importantes da história do futebol. O escândalo de corrupção da Fifa pode colocar uma pá de cal no sistema atual de gestão do esporte mais querido do mundo. 

O racha do futebol

Reeleito. 


Joseph Blatter acaba de ser reeleito para presidente da FIFA, a despeito de todas as denúncias que estremeceram a entidade. Denúncias e prisões, que por lógica e por uma física típica das grandes corporações e por isso inexorável, não tem como não respingarem na figura do atual mandatário do futebol mundial. 

Blatter conseguiu o apoio das confederações nacionais e regionais do mundo todo, exceto da Europa, onde a oposição foi substancial. Disto e de outras circunstâncias, pode ocorrer um fenômeno único e que alterará toda a estrutura do futebol mundial: O racha entre a Europa e o resto do mundo (no futebol).

Já faz algum tempo, os clubes europeus tem brigado com a FIFA por questões de salário e direito de imagem de seus jogadores, e indenização por lesões, quando da disputa de campeonatos internacionais. O desgaste já era evidente com a participação de Luis Figo nas eleições da entidade e o apoio ao maior concorrente de Blatter.

Agora, com as notícias sobre a corrupção e a repercussão negativa sobre as mortes no Catar, há grandes chances de tentativa de criação de uma nova entidade, capitaneada pelos Europeus (e Michel Platini). 

As consequências podem ser diversas para os clubes brasileiros. E serão o mais negativas quanto mais ficarem atrelados à CBF, uma das apoiadoras de Blatter. O Futebol pode mudar com relação a regras de aquisição de jogadores e outras essenciais à prática do esporte, principalmente econômicas e comerciais. Ganha, em geral, quem tem maior poderio econômico, e por isso, maior voz. Se as equipes brasileiras defenderem, na hipótese de uma "revolução", o sistema antigo, podem ter muito a perder. Nossos melhores jogadores já se vão cedo. Imagine diante de um racha onde o futebol sulamericano ficasse desacreditado?

Basicamente, os 11 denunciados pela procuradoria americana são sulamericanos e caribenhos. 

É melhor participar das mudanças do que ser o alvo delas. 

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Que Guerrero vá. Que seja feliz. E que volte.

Anunciado oficialmente que Paolo Guerrero não defenderá mais as cores do Corinthians em 2015, as redes sociais tremeram e a torcida alvinegra se dividiu. Uns defenderam rejeitar o craque, outros agradecer a sua passagem. Uns lhe desejam: vá para o inferno e outros, lhe desejam boa sorte. Eu sou da última vertente. 

Que Guerrero vá. Que seja feliz. E que volte.

Um gol fatídico e que não trouxe idolatria imediata. 


Quando Guerrero chegou no Corinthians, foi justamente na ressaca da conquista da Libertadores. O time não dava muita bola para o Brasileiro, só pensava no Mundial, e para falar a verdade, ninguém sabia quem era aquele peruano doido com cabelos em metamorfose constante. A torcida estava bem contente com Sheik e com Jorge Henrique e imaginou que Guerrero seria uma espécie de novo Liédson, colhendo um gol aqui e outro acolá. 

Guerrero pareceu se entrosar rapidamente com a equipe e marcou 6 gols em 15 jogos no certame nacional. Mas a torcida ainda não botava fé no Peruano. Eis que chegou dezembro, uma copa especial e um gol fatídico. Mas nada mudou. 

O Gol do mundial, e uma idolatria que não se consumou.

O Nove Corinthiano marcou um típico gol de oportunismo e categoria e ajudou a bater a equipe inglesa do Chelsea. Trata-se de um dos títulos mais importantes da história alvinegra, mas ainda assim, tal como aconteceu com Mineiro pelo São Paulo e Adriano Gabiru pelo Inter, o gol não trouxe idolatria imediata ao jogador. Faltava alguma coisa, e ainda falta. 

A torcida só foi se acostumando mesmo a Guerrero nos outros dois anos, e passou a contar com o jogador como um diferencial em 2014 e 2015. O peruano não chegou a ser ídolo, mas ele estava na porta. Se Guerrero continuasse, certamente angariaria mais admiradores ao seu futebol, o que certamente ele tem condição de fazer. Assim como disse Casagrande, Guerrero estava em vias de se tornar ídolo. Mas vai sair. 

O que o jogador merece, o que o jogador pede e o que o time pode pagar. Que seja feliz. 

Peruano merece o que pede.


Não compartilho da tese de parte considerável da torcida de que Guerrero é mercenário. O jogador já tem 31 anos e todos sabem que a carreira do jogador de futebol é curta e o futuro é incerto. Trata-se, provavelmente, do último bom contrato do atacante peruano e o jogador tem que fazer um pé de meia. 

Guerrero está certo em pedir os valores que ele acha que o time pode pagar. O problema é que o time não pode pagar. Mas o time não pode pagar justamente por seus próprios erros. Fosse em 2014, o time tinha condições de arcar com o que Guerrero pede. Mas preferiu investir R$ 1 milhão mensal em dois jogadores que não trouxeram retorno algum e cujo valor de revenda tende a decrescer: Love e Cristian. Eles ainda podem estourar. Mas até agora, o investimento não se justificou. Enquanto isso, Guerrero, o jogador mais regular das últimas temporadas, vai embora. 

Ele merece o que pede. E o Corinthians só não pode pagar por seus próprios erros.

Explico: Não existe jogador igual a ele no futebol brasileiro. Guerrero sabe finalizar, sabe cabecear, sabe marcar e age como um pivô como ninguém. Guerrero também não tem medo de se jogar na bola e não tem medo de qualquer campeonato. Paolo é o contraponto de muitos boleiros brasileiros atuais. É o melhor reforço que qualquer time brasileiro possa querer. 

Que volte.

Gosto muito do futebol de Guerrero. E acho que ele ainda tem chances de voltar ao Corinthians. Caso fique no futebol brasileiro, será difícil a qualquer equipe pagar o pede. O Flamengo exsurgiu em um rompante de bom pagador, mas, conhecendo as agruras da cartolagem, é duvidoso saber até quando. 

Guerrero se identifica com os times de massa. Tem tudo para dar certo no Flamengo. Mas tomara que seja bem pago, e em dia. E que se for trocar de time, que volte para o Corinthians. Eu, pelo menos, o aceitarei de bom grado. 

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Pitacos do Brasileirão - Não é possível falar em favorito

Terminada a terceira rodada, quatro times dividem a primeira posição: Sport-PE, Goiás, Corinthians e São Paulo. Todos com sete pontos, ainda é muito cedo para falar em favorito. Duas rodadas seriam o suficiente para colocar estes mesmos times na parte de baixo da tabela, ainda mais com as próximas rodadas recheadas de clássicos. 

Nenhum time se destacou pelo bom futebol vistoso. O Atlético Mineiro, sensação do final de semana passado, ficou vendido ao xará Paranaense. A única equipe que teve uma vitória com V maiúsculo foi o São Paulo, que finalmente fez valer o seu bom elenco. 

Ponto negativo foi a fraca média de gols, com metade dos jogos terminando em placar simples. No 0 x 0 no Maracanã, que praticamente só teve futebol no segundo tempo, ambas as equipes tiveram chances de faturar, mas o Flu parou nas mãos e pés de Cássio e o Corinthians no erro do seu próprio atacante. Corinthians que virou uma grande incógnita. O Futebol já não é mais o mesmo do começo do ano e logo o ataque titular vai sair. A última partida de ambos os jogadores - Guerrero e Emerson - deve ser justamente o clássico.


E por falar em clássicos, o próximo final de semana promete, com Palmeiras x Corinthians e Fla x Flu e um intervalo de apenas três dias até a quinta rodada. Talvez, depois disto, possamos falar em favoritos para a Libertadores. 

Destaque dos gols foi o da vitória da Chapecoense sobre o Santos - uma bala de Apodi. 



Claro, tudo pode mudar com a abertura da janela de transferências da Europa, em 1º de julho, que só termina em 31 de agosto. Só aí, podemos falar que o Brasileiro definitivamente começou. 

segunda-feira, 18 de maio de 2015

A segunda rodada do brasileirão - pitacos

A segunda rodada do brasileirão termina com o Corinthians na liderança e o Cruzeiro na lanterna, únicos times 100% (derrotas, no caso do cruzeiro).

É muito cedo para falar em favoritos! Mas a história demonstra que as primeiras rodadas são importantíssimas para definir os classificados para a Libertadores e o futuro campeão. E nesse ano, mais importante ainda. 

Corinthians

A vitória do Corinthians foi magra como o seu futebol. Ao menos os três pontos vieram em um jogo que não houve tanta dificuldade. A tabela, no entanto, parece ser ingrata com o Timão: os próximos adversários são todos clássicos: Fluminense, Palmeiras e Grêmio. Depois do Joinville (5ª rodada) vem Santos e Internacional, os times que tem jogado melhor no primeiro semestre. É mole?

Santos e Atlético Mineiro

Gol mais belo da rodada: Geuvânio, pelo Santos. Foto: Rogério Soares / A Tribuna

Grandes destaques são a vitória do Santos sobre o Cruzeiro, com direito a golaço de Geuvânio, e a Vitória do Galo sobre o Fluminense por 4 x 1, demonstrando rápida recuperação e bom futebol. O time Santista vai a Chapecó e o Atlético mineiro enfrenta o seu xará Paranaense. 

Grêmio e São Paulo

A derrota do Grêmio foi marcada por um gol contra fantástico e põe uma grande interrogação sobre a continuidade do trabalho de Felipão, já muito questionado, até o final do campeonato. O mesmo se pode dizer sobre o São Paulo, a incógnita atual do brasileirão, um dos melhores elencos, mas que em breve vai perder o seu goleiro e não se sabe se vai contratar um técnico. Pato e Ganso, antigas esperanças da torcida brasileira nos idos de 2010, parecem não se encontrar. Quem aproveitou foi a Ponte, que ganhou de forma merecida, com mais um golaço de Renato Cajá.

Sport, Flamengo, Inter e Palmeiras

Diego Souza de goleiro contra o Flamengo. Foto: Alexandre Brum/ O Dia


O Flamengo conseguiu venturoso empate contra um surpreendente e eficiente Sport, que jogou os últimos minutos com Diego Souza como goleiro. O Inter, jogando com time reserva, recebeu e bateu o Avaí em casa e conseguiu boa vitória, dadas as circunstâncias. Destaque negativo é o empate de zero do Palmeiras com o Joinville, um jogo que podia muito bem trazer os três pontos para a equipe alviverde.

Prognósticos

Como eu não gosto só de descrever o futebol, mas também analisar, vejo um brasileirão interessantíssimo e disputadíssimo, com a quarta, a quinta, a sétima e a oitava rodadas cheias de clássicos, o que significa que, se algum time conseguir despontar até a décima rodada, pode ter a sua vida mais fácil no resto do primeiro turno. No segundo turno, a saraivada de clássicos começa novamente e pode embolar o certame. Não há muitos clássicos nas últimas três rodadas, o que também pode tornar o campeonato meio moroso nas últimas dez rodadas caso aconteça como nos últimos dois anos, quando o cruzeiro arrancou sem maiores concorrentes. 


quinta-feira, 14 de maio de 2015

Pitacos da Libertadores

O bom da Libertadores é o Internacional. Com dois jogos espetaculares contra o Atlético Mineiro, golaços e classificação merecidíssima, destaques de Valdivia e D'Alessandra, a equipe está do lado certo da tabela e evitará pegar Cruzeiro, River ou Boca antes da final. 

A equipe gaúcha cresce no momento certo, ao contrário do Corinthians, que caiu, e do São Paulo, que nunca cresceu o suficiente para passar das oitavas, e deu azar de pegar um bom Cruzeiro.

Cruzeiro que pegará Boca ou River. É mole ou quer mais? O 1 x 0 foi magro mas o futebol não. A equipe pululava cá e lá na defesa do São Paulo e poderia ter saído com a classificação no tempo normal. Não foi assim, mas os penalties, desta vez, trouxeram justiça. Agora o "prêmio" é só pegar um gigante argentino. Bom, quem quer ser campeão não escolhe adversário, vide o Corinthians - o presente de deus se tornou um efetivo pesadelo. 

Restando poucos jogos para as quartas, prevejo Inter na final e Guarani (Par) na outra. Quem sabe?


A derrota corinthiana - uma guerra de um lado só

Quando Paolo Guerrero fez falta boba no ataque, excesso de vontade que trasmudou em violência, eu já me segurei nas canelas e imaginei que aquele Corinthians não seria muito diferente dos jogos anteriores. Faltava inspiração, sobrava vontade, mas isso não seria suficiente diante de um time bem montado e fechado como o Guarani. O Corinthians parecia estar vivendo uma guerra e isso, como em 2003 e 2006 e 2011, foi negativo.

A derrota corinthiana, os excessos cometidos e o futuro

Mais uma expulsão de um Corinthiano: time confunde intensidade com ansiedade. Foto: Junior Lago/ UOL


O lance do Guerrero foi fátidico para mim, afinal, menos de um minuto já tinha passado. Eu tive certeza, diante dos últimos jogos, que o nervosismo traria uma ou mais expulsões para os nossos jogadores. A Libertadores do Corinthians foi um campeonato atípico na técnica, com um início promissor e uma queda brusca, mas no quesito "violência" nada mudou. Emerson, Guerrero, Fábio Santos e Jadson e Mendoza foram expulsos em jogos chaves, contra o Once Caldas, São Paulo e Guarani, justamente os mais importantes da temporada. 

A ansiedade, a violência, a pressa e o excesso de vontade estão relacionados. 

O meu palpite tem a ver com a forma como Tite montou o time. Tite veio da Europa com um jargão - intensidade! Algo que ele pregou desde o começo já no jogo contra o Hamburgo. 

E com uma boa preparação, a equipe começou a temporada atropelando os adversários. O que Tite tinha aprendido em Madrid e Londres estava se aplicando e parecia funcionar de vento em popa. Mas aqui não é a Espanha ou a Inglaterra. O certame é muito diferente e as preparações também. A ideia aplicada pelos técnicos europeus vem sendo trabalhada há bastante tempo e evoluiu do Tika-Taka (controle da posse de bole e ciscar na área adversária) para as blitz da Seleção Alemã e time do Real Madrid, dando preferência para a efetividade. Mas isso já dura pelo menos dois ou três anos. 

Os jogadores brasileiros não estão acostumados ainda a isto. É novo. E aqui na América do Sul e especialmente o Brasil, o futebol tem muito de emoção. Não foi difícil confundir a intensidade pedida por Tite com o excesso de vontade que descamba para a ansiedade, retrato do jogo, e a violência. O Corinthians, mais uma vez, tratou um jogo simples como uma guerra. O emocional, que foi o diferencial em 2012, pecou novamente em 2015. Já o Guarani do Paraguai nunca esteve efetivamente ameaçado. Teve uma atitude tranquila. A guerra era de um lado só

Ponto certo é que o treinador da equipe porteña é um nome a ser anotado para futuro, conseguindo mixar uma defesa sólida com contra ataques perigosíssimos, dada a limitação do time. 

Atacante paraguaio Santander também é um bom nome para o futuro. Foto: divulgação. 


A guerra psicológica não funcionou e o time perdeu dentro de campo. Fatores extra campo atrapalharam também, como a falta de pagamento de salários e o descontrole das finanças. As contratações não surtiram resultado: O jogo mais importante era formado basicamente por jogadores do Brasileiro de 2014. 

O futuro

A depender da forma amadora como a diretoria agiu nos últimos anos, com a contratação de Pato, Love e Cristian, especialmente os dois últimos com salários altissimos, o Corinthians terá trabalho no campeonato brasileiro. Se Guerrero realmente sair, será uma prova da falta de eficiência e o time perderá 50% do seu poder de fogo. 

Tite precisa repensar a sua estratégia de forma a manter a ideia inicial e a forma como o Time jogava no começo do ano. Não é porque perdeu que o técnico é ruim. O Corinthians se desencontrou, infelizmente na etapa mais complicada do caminho. Até implementar a filosofia, pode demorar, e o Brasileiro é um ótimo laboratório. 

A Copa do Brasil é incógnita.