terça-feira, 9 de julho de 2013

Haverá domínio no Futebol Brasileiro?

Caros leitores, venho aqui retomar um assunto que já discuti antes: Haverá domínio no Futebol Brasileiro?

Faço essa pergunta tendo em mente o artigo do Julio Gomes, em seu blog na Uol.

Diz o comentarista que cada vez menos jogadores querem jogar na Liga Espanhola em virtude da ausência de protagonismo dos times menores. Que isto guarda estreita relação com a negociação dos direitos televisivos de forma separada entre os times, fazendo com que Real Madrid e Barcelona abocanhem mais de 50% das receitas. Assim os times menores, sem dinheiro e sem chances no campeonato, não conseguem segurar os seus melhores jogadores. Com isso o público e a própria televisão teriam perdido interesse em outros jogos que não dos dois principais.

Com relação ao Brasileirão, diz ainda que cada vez mais times entram no certame sabedores que não vão ganhar e que Corinthians, Flamengo e São Paulo ganham muito mais do que os outros 9 times grandes. Ou seja, deixa nas entrelinhas que o Brasileirão poderá padecer dos mesmos defeitos da Liga Espanhola. 

Discordo da maior parte do que diz o comentarista.

Eu mesmo já disse aqui que o Futebol Brasileiro continua competitivo: 


Disse e continuo dizendo que os times intermediários continuam com plenas chances de serem campeões. Alguns fatos explicam isso. Muito embora nos últimos 10 campeonatos somente equipes do Rio e de São Paulo tenham sido campeãs, isso não significa que haverá um desequilíbrio do eixo do futebol maior do que o que há hoje. 

Basta lembrar da década de 60. Quem dominava o Futebol Brasileiro e quiçá mundial da época eram três times: Santos, Botafogo e Palmeiras. Todos do eixo Rio São Paulo. As principais fontes de renda de daquelas equipes eram o público e os amistosos. E estas equipes tiveram então tudo para manter o dito domínio já que atraiam maiores investimentos para si. 

Se houve um domínio no futebol brasileiro,
foi na década de 60, entre Santos, Palmeiras e Botafogo.
Foto: Domínio Público. 


No entanto, não foi bem assim o que ocorreu: Na década de 70 o domínio do Futebol Brasileiro se pulverizou. Grandes equipes saíram de Minas Gerais, com Cruzeiro de Nelinho e Tostão e Atlético de Dadá, do Rio Grande do Sul, como o Inter de Falcão, e do Rio, com o Vasco de Dinamite e o Flamengo de Zico. De São Paulo, o Palmeiras teve um ínicio arrasador e começou a enfrentar um fila que duraria 19 anos. O São Paulo começou a se destacar e o Corinthians saiu da sua duradoura fila.

Inter de Falcão foi um dos grandes vencedores da década de 70.
Mas naquele decênio houve muitos vencedores.
Fotos: Domínio Público.


E na década de 80. Houve um curto domínio de equipes como Grêmio, Flamengo, Fluminense e Corinthians. E bons times saíram inclusive do Paraná com o Coritiba campeão em 1985 e o da Bahia com o Bahia campeão em 1988. 

A década de 1980 também teve muitas variações de campeões. 
O Flamengo teve quatro títulos. 
Destaque para o último título do Bahia em 1988,
que desde então perdeu a 
condição de protagonista do futebol brasileiro.

A década de 90 sim, foi dominada pelo eixo Rio São Paulo. Mas dos oito times deste eixo apenas o Fluminense não foi campeão. Não houve um abismo tão grande. Resta lembrar que o Grêmio e o Cruzeiro foram campeões da Libertadores. 

Eu diria que o que a grande mudança do futebol brasileiro talvez já tenha acontecido: a queda de protagonismo dos times menores no Brasileirão. Isso vem de três fatores: (i) a concentração de renda das tvs na série A; (ii) os pontos corridos; e (iii) a diminuição do número de participantes do certame nacional, algo que era antes 28 ou até mais para o número de 20 atual.  Com isso temos 12 grandes times que dificilmente são rebaixados e 8 times que disputarão entre si para não caírem. Isso criou um efeito nefasto também na produção de jogadores. Surgiram muitos times de empresários que duram apenas um ano. 

Com isso algumas equipes são campeãs e no ano seguinte são rebaixadas novamente. Caso peculiar do Guarani. Além deste time campineiro podemos citar a derrocada da Ponte Preta, da Portuguesa, do Paraná, do Goiás, do Bahia, do Vitória, do Sport, Náutico, Santa Cruz, América Mineiro e Juventude, clubes que faziam parte da primeira divisão mas que recentemente tem um histórico de queda e subida. Podemos destacar que Atlético Paranaense e Coritiba parecem ter subido para ficar, mas nada garante a sua presença continua na próxima década.

Já na década 2000, tivemos uma grande variação de campeões, com o Vasco, Santos, Atlético Paranaense, Cruzeiro, Corinthians, Flamengo e São Paulo. 

Atlético Paranaense campeão brasileiro de 2001.
Esta década também não teve grande domínio. Foto Pública.


Ou seja, não houve ainda no Futebol brasileiro um domínio como aquele dos anos 60. Cada vez mais times atingiram o protagonismo. Se há uma tendência é a crescente concentração dos títulos nos 12 grandes clubes brasileiros, algo não muito diferente do que ocorre há 60 anos. 

Apontar que Flamengo, Corinthians e São Paulo podem dominar o futebol brasileiro é uma opinião que merece reconhecimento. Mas como já disse, o Brasil, diferente da Europa, é um país de proporções continentais. Não devemos nos esquecer que outros times tem excelentes programas de marketing e de sócio-torcedor, como o Internacional, o Grêmio e o Atlético Paranaense. 

Corinthians, São Paulo e Flamengo detém as maiores cotas de TV, mas isso não impede outros times de receberem quantias consideráveis e esta não é a única fonte de renda dos grandes times. Deve ser citado também o marketing e o sócio-torcedor. Foto: Eduardo/Viana/Ferreira/Lancenet


Assim, o futuro do futebol brasileiro tende a continuar competitivo na próxima década. Eventual derrocada de um grande time seria muito mais resultado de má-organização e ausência de adaptação do que somente pressão e domínio de outros times. O Palmeiras recebe uma das maiores cotas de televisão do Brasil, mas isso não impediu que a equipe fosse rebaixada devido, também, a erros de administração.. O Vasco também recebe uma quantia considerável mas enfrenta problemas financeiros. 



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