quinta-feira, 31 de julho de 2014

Restruturação do calendário do futebol brasileiro - premissas a serem consideradas.

É fato que há muito tempo se discute que o calendário do futebol brasileiro é excessivo e moroso, e se cogita que talvez seja uma das razões para a queda de qualidade dos jogos e dos times em geral. Muito também se diz a respeito de se acompanhar o europeu. Mas para efeitos de mudança, não nos devemos esquecer que o nosso futebol foi formado e emancipado de uma forma completamente diferente daquela do continente europeu. 

Para se ter uma ideia, até meados da década de 80 os torneios estaduais eram tão importantes que os times os privilegiavam em detrimento da Copa Libertadores ou até do Campeonato Brasileiro. Prova disso que na virada da década de 90 somente três brasileiros ganharam o título sul-americano, ao passo que os argentinos colecionavam 15 títulos. 

Tratando de território, ao contrário dos países europeus, o Brasil é um país de proporções continentais, o que tornava custosa a peregrinação de equipes como o Santos, Palmeiras e Botafogo, alguns dos grandes dos anos 60. Por outro lado, o calendário era recheado de amistosos nacionais e internacionais, os quais eram alguns dos principais meios de os clubes participantes angariar fundos e manter os seus principais jogadores. Assim, valia mais a pena disputar os estaduais e ainda jogar uns amistosos fora do país.

Esta prática dos nossos times se arrefeceu de tal modo que hoje quase não se ouve falar de amistosos internacionais pelas equipes brasileiras, ao passo que os grandes europeus investem em jogos no próprio continente, e especialmente na Ásia e América do Norte, as novas fronteiras do futebol. 

Na década de 1990, em especial no biênio 1993-1994, os campeonatos regionais começam a dar lugar em importância para os nacionais e em especial para a Libertadores, que os brasileiros redescobriram com o São Paulo. Ao mesmo tempo, os campeonatos nacionais da Europa e o próprio Europeu foram reorganizados. Nascia ali, por exemplo, a Premier League e a Copa dos Campeões.

A Europa planilhou. Os calendários europeus passaram a ser cada vez mais padronizados e previsíveis, o que permitiu a previsão de novas receitas estáveis e relativa independência com a TV. Isto só começou a ser feito após 2003 no Brasil, e nos últimos 5 anos com a popularização da figura do sócio-torcedor. 

Já no Brasil, a última década foi palco do crescente desprestígio vivido pelos Estaduais, que passaram a ser vistos mais como uma grande pré-temporada do que títulos importantes. Deve se lembrar, porém, que o torneio é em muitos casos centenário e pode envolver mais de 100 times, considerando todas as divisões. 

Infelizmente, as equipes menores que já foram importantes, como Ferroviária, Juventus, Bangu, América-RJ, América-MG perderam muito espaço para os chamados times de empresários ou de mecenas, caso do Barueri, Santo André e São Caetano, além de outras equipes menores que chegaram ou ganharam as finais.

No que toca aos grandes, de certa forma ainda ocorre certo equilíbrio. Como já destaquei em outros posts neste blog, temos 12 times gigantes no nosso futebol - Atlético Mineiro, Cruzeiro, Santos, São Paulo, Palmeiras, Corinthians, Vasco, Flamengo, Botafogo, Fluminense, Internacional e Grêmio. E ainda times de muita tradição como o Atlético Paranaense, o Coritiba, o Bahia e o Vitória e o Sport e a Portuguesa. Isso significa que, em um campeonato com 20 times e 4 rebaixados, ao menos dois destes times cairá - caso todos joguem a primeira divisão. 

Sem falar em outras boas equipes como Ponte Preta, Guarani, Juventude, Paraná, Goiás, Santa Cruz e Náutico. São as que sobraram do abismo que foi criado entre os times tradicionais e os sazonais. 

Então, na Série A temos 12 times com chances de título. Nos últimos 10 anos, 6 deles foram campeões brasileiros (Cruzeiro, Santos, Corinthians, São Paulo, Fluminense e Flamengo) e dois dos outros foram campeões da Libertadores (Atlético Mineiro e Internacional). Comparado com outros países, temos um número bem maior de times "grandes". Na Espanha são 3 ou 4 (Barcelona, Real, Atlético e Valencia), na Inglaterra, cerca de 4 (Arsenal, Liverpool, Manchester e Chelsea), o mesmo número na Itália (Milan, Roma, Inter e Juventus) e na Alemanha 2 ou 3 (Bayern Munchen, Leverkusen e Borussia). 

Hoje a média de jogos de uma equipe brasileira gira entre 38 jogos no nacional, 17 jogos no estadual, 6 na Copa do Brasil e 10 na Libertadores. São cerca de 70 jogos, o que não difere muito das equipes do Barcelona (70) e Chelsea (76), ambos em 2012/2013. Com uma peculiar diferença: as equipes europeias jogaram entre 6 a 8 amistosos, a maioria internacionais e com passagens por outros continentes. 

Considerando estas informações, para se reestruturar/montar um calendário do futebol brasileiro de forma dinâmica, deve se levar em conta:

- O Brasil é um país de proporções continentais. 
- É mais caro e mais demorado viajar de Porto Alegre a Recife do que de Valencia a La Coruña. 
- Temos 12 times grandes e mais 6 times tradicionais.
- Os estaduais são torneios centenários que envolvem muitos times além da primeira divisão.
- Por outro lado, a maioria dos times pequenos viraram equipes de empresários ou sazonais.
- As equipes grandes passaram a tratar os estaduais como pré-temporada.
- Há relativo sucesso na criação de torneios regionais.
- A mutação dos estaduais passa pela estrutura de poder das federações, que elegem o presidente da CBF, o que torna o sistema rígido.
- As equipes brasileiras tem oportunidades e convites, mas dispõem de datas precárias para jogar amistosos no exterior
- As equipes brasileiras precisam se reafirmar no exterior como forma de angariar e melhorar patrocinios, e por tabela, manter times competitivos.
- O calendário europeu segue a temporada das estações, de forma aos jogadores terem férias na primavera/verão (meio do ano).
- As estações são invertidas no hemisfério sul e as equipes disputam competições no meio do ano, tendo férias para os jogadores no fim do ano. 
- Deve se conciliar jogar os campeonatos internacionais e as copas nacionais.
- Deve se conciliar férias.
- Deve se propiciar aos times a previsão de receitas.
- Podemos humildemente voltar nossos olhos aos campeonatos argentino, chileno, uruguaio, colombiano, equatoriano, paraguaio, etc.. 

Estas são algumas das premissas que devem ser adotadas para criar um calendário. No próximo post, faço uma resenha e um rascunho de planos para reestruturação, com ideias para se trabalhar outros aspectos importantes, como as equipes de juniores e o incentivo para se fazer mais gols. 

Plus - Estatísticas a serem levadas em conta

Em 1969, o Santos, principal time do país, jogou o torneio Início (quatro jogos de 20 minutos no mesmo dia), 9 amistosos na África, incluindo a seleção do Congo, o Paulista (fevereiro a junho), o Torneio Cidade de Cuiabá, a Recopa Sul-americana, o Torneio dos Campeões, a Recopa Mundial, três amistosos no Paraná, 7 amistosos na Europa, a Taça de Prata, a mais dois amistosos e outra Recopa Sul-Americana. Um total de 81 jogos. 

Em 1979, o Internacional, melhor time da época, disputou, entre regional, brasileiro e amistosos, nada menos que 90 jogos. Isto porque não disputou a Libertadores ou outro torneio internacional oficial. O Guarani, que disputou o torneio sul-americano, jogou 83 partidas. 


Em 1989, ano em que foi campeão, o Vasco jogou 61 jogos, com destaque para cinco torneios amistosos. 

O Atlético Mineiro jogou 71 jogos em 2013. Nenhum destes foi amistoso. Em 2012, o Barcelona jogou 63 jogos e o Chelsea 76 jogos. Ambos com amistosos na Ásia e na América do Norte

terça-feira, 29 de julho de 2014

O tragédia e a redenção do futebol em Minas Gerais.

Pensei em criar um título diferente, meio gibizesco, como "a morte e o renascimento do futebol brasíleiro em Minas Gerais." Fora ficar muito dramático, aparentaria muito ideal e utópico. Nem faleceu o nosso jogar de bola nas Minas Gerais e muito menos houve tempo para vingar o nascimento de algo novo.

Falo do Cruzeiro. Falo do Galo. E falo da Alemanha.



Se naquele Mineirão ocorreu a tragédia das tragédias da Seleção Brasileira - a única equipe que, desde quando "não existem mais bobos no futebol" sofreu uma goleada vexatória de 7 gols, o mesmo estádio acompanha, ainda embasbacado e talvez surpreso, as apresentações de gala do Cruzeiro.

A equipe mineira, à maneira dos tedescos, não economiza nos gols e não se contenta com pouco. Isto vem desde o ano passado. Não à toa a taça veio cedo como nunca em 2013. A mídia, porém, continua focada no eixo Rio-São Paulo e as vezes no Rio Grande do Sul, em especial, os seus técnicos. Pudera, o futebol mineiro não ganhava títulos nacionais desde 2003 com o próprio Cruzeiro, vitaminado por Vanderlei Luxemburgo. 

De repente os mineiros irromperam com o tabu e conquistaram o nacional e a libertadores de 2013. Tudo de uma vez só. Alguma coisa acontece em Belo Horizonte. E lá se dá exemplos de como jogar futebol nos últimos meses. De um lado, a qualidade da Raposa, jogando um futebol ofensivo. De outro, o Galo equilibrado e acima de tudo raçudo. O coração nas chuteiras.

Tivesse tudo isto a Seleção Brasileira não padeceria da blitz alemã. O que se viu, foi o contrário. Humildes, os Germânicos não se importaram de sujar o calção na nossa terra roxa e gramados das minas gerais. Mesclaram-se com o povo e herdaram o verdadeiro espírito do nosso futebol. Colocaram os pés em todas as divididas no jogo. E não se assustaram com a facilidade dos gols. Se faz um, faz outro. 

Que sigamos o exemplo do Cruzeiro e do Atlético. Alguma coisa está nascendo em Belo Horizonte. Que seja boa. 

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Engenharias financeiras no futebol não costumam dar certo.

Acabei de ouvir que o Flamengo planeja uma engenharia financeira para pagar os R$ 900 mil mensais por Robinho, 30. Quem vê futebol há algum tempo, sabe que, desde Romário, isto não tem dado muito certo, tanto para o jogador como para o time. 



Algumas razões são óbvias: 

- muitas vezes o time está mal das pernas, especialmente nas finanças, inclusive devendo para alguns jogadores, e mesmo assim consegue trazer um medalhão internacional, que, sabedor disto, com certeza exigiu garantias de salário em dia. Isto simplesmente acaba com a harmonia do time e cria uma animosidade, ainda que fria, entre o contratado e os antigos. Aliás, isso já vem desde antes, quando as primeiras tratativas são anunciadas pela imprensa, para alegria dos empresários.

- uma engenharia financeira envolve muitas partes que têm que se coordenar, e volta e meia, qualquer desentendimento faz com que se atrase os salários do medalhão. Óbvio, e difícil jogar sem receber e as chances de o jogador sair e cobrar uma multa dantesca, tão grande que poderia servir para comprar outro jogador, são muito grandes. Nestas situações, mesmo quando fica no time, desanima. 

- os jogadores que voltam costumam ficar. Jogadores como Romário, Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Adriano e outros que voltaram não tiveram boas oportunidades para voltar para os grandes clubes da Europa.

- não há facilidade para voltar para a Seleção. Vide Ronaldos, Romário, Pato, Adriano.  

- os medalhões são em geral craques ou ótimos jogadores em decadência, que querem continuar recebendo altos valores, mas não necessariamente compensam o investimento.

- os valores costumam ser tão altos que os times brasileiros poderiam contratar revelações europeias ou sul-americanos em destaque na europa, jovens, mas nunca pensaram nisto. 


terça-feira, 22 de julho de 2014

Dunga e as três teorias aplicáveis do que não fazer na organização de uma equipe.

O título também poderia ser: a falta de continuidade na seleção Canarinho.

Hoje, terça-feira, 22 de julho de 2014, a CBF dará continuidade ao "projeto" para a Copa de 2018. Trata-se de um novo velho técnico: o Dunga. Campeão mundial como jogador em 1994, jogador símbolo de uma geração que jogava feio (1990), e ex-técnico da Seleção que caiu nas quartas-de-final na Copa de 2010, Carlos Caetano Bledorn Verri está de volta ao comando da Seleção Brasileira. 

Dunga foi um dos comandantes da busca de renovação no Brasil para a Copa de 2010. Esperava-se a criação de um grupo com fome de bola, ao contrário da equipe que jogou na Copa de 2006, mais conhecida pelas festas e jogadores fora do peso do que pelo seu futebol. É o que dizia a imprensa da época acerca de Ronaldinho e cia., com o que discordo. 




Jogamos 2010 com um título de Copa América e outro de Copa das Confederações na carteira, ambos passando por cima da Argentina, o que carimbou o passaporte de Dunga para a Copa do Mundo, apesar de um futebol mais afeto aos resultados e menos à qualidade. Esta condição, claro, pesou nas críticas da imprensa, que já em clara animosidade com o ex-treinador, um defensor do elenco que batia de frente com os veículos televisivos, aplaudiu a sua demissão do comando da equipe, como se o problema fosse apenas ele. 

Ao contrário desta parcela da imprensa, acredito que Dunga, em parte, foi injustiçado. A seleção apresentava bons resultados e tinha potencial para crescer, apesar da derrota para a Holanda. É certo: Dunga nunca fora técnico antes e mesmo assim não fez um trabalho ruim. Mas talvez a pressão por ganhar 2014, e ainda, o descontentamento de algumas TV fizessem com que o seu ciclo se encerrasse mais cedo. 

Isso não acontece, por exemplo, na Alemanha, França ou Espanha, em que o fato de ter caído nas semifinais ou quartas-de-final não significa que o treinador deva ser demitido. Lá, o conceito de projeto é muito diferente do nosso. 

Apreciei o trabalho de Dunga. Mas não creio ser o técnico ideal para o momento, em que se busca justamente a renovação da forma de se jogar. Parece que o intuito da CBF é cada vez mais se enclausurar contra as influências do Bom Senso, mídia e comentaristas de futebol. Qualquer influxo de mudança é visto com hojeriza em Comary. Por isso, um ex-jogador conhecido por fechar o grupo. 


Em resumo: Creio que Dunga pode fazer um bom trabalho, mas os defeitos estruturais ainda estão aí, o 7 x 1 ainda está aí. Este, como Jason, pode voltar mais uma vez. 

Voltamos então, à mesma estaca de 2006. Vamos renovar a equipe. Começar de novo. Mas deveríamos, na realidade, pensar já em 2022. Não se forma um grupo campeão em apenas quatro anos. 

O futebol brasileiro, representado pela CBF, ainda padece de alguns graves defeitos de organização, quando comparado ao Europeu. Aponto aqui três. 

1 - Jogar o Bebê com a água fora com a água do banho. Trata-se de um ditado bem brasileiro, apesar de ter surgido na Inglaterra. Como quando vai se banhar o nenem, mas a água está quente demais para ele, e termina-se jogando tanto a água quanto o bebê fora. É o que acontece na seleção brasileira há tempos. As mudanças atingem tanto muitos defeitos quanto muitas qualidades da equipe prejudicada. Em 2006, queria-se renovação, menos agitação e mais raça. Com isso, alguns dos nossos melhores astros, como Ronaldinho Gaúcho, deixaram de ser convocados e não foram para a Copa de 2010. Em 2014, novamente, abandonamos o planejamento feito em 2006/2007, para começar outro em 2011, e outro em 2012. Disto decorre a segunda teoria.

2 - Cortar um planejamento no meio. No Brasil, parece ser regra que os resultados em títulos importam muito mais do que os resultados de vitória ou mesmo o futebol jogado. Quando Mano Menezes engrenava, em 2012, trocaram-no por Felipão. Isso já deu certo antes, em 2002, mas na época tínhamos dois jogadores eleitos os melhores do mundo, um que ficou entre os três por anos e outros medalhões. Se Dunga não fez uma Copa ruim em 2010, era melhor tê-lo mantido, a fim de colher os frutos que nem sempre surgem em apenas 4 anos. Olhe a seleção da Alemanha que conta com o mesmo técnico desde antes da Copa de 2010, e mesmo assim o manteve com o terceiro lugar. No Brasil, ou se é campeão, ou se troca o time inteiro. 

3 - Apostar em medalhões para afastar crises. Não haveria problema algum se fosse apenas isso. Mas muitas vezes se aposta em jogadores ou treinadores tarimbados somente para afastar a ideia de renovação estrutural ou para aplacar a pressão da imprensa e torcedores. Pensa-se menos na qualidade técnica da mudança ou do salvador da pátria do que na figura de para-raios que ele(s) manterá(ão) durante algum tempo. Dunga é um exemplo disso, e talvez não haja para-raios melhor do que ele, agora que Felipão saiu. Pode não ser o melhor técnico do mundo, mas certamente as atenções começaram a se voltar muito mais para ele do que para a CBF. Que ganha um valioso tempo com isso, em detrimento do nosso futebol, que fica, ali, escondido, na moita, desde 1982. 


quinta-feira, 17 de julho de 2014

Gilmar Rinaldi e a manutenção de um planejamento sem sentido.

Gilmar Rinaldi foi contratado como diretor de Seleções pela CBF. Trata-se de uma materialização de um planejamento sem sentido, ou em melhor definição, a falta de qualquer planejamento. 



Não vou falar de Gilmar como jogador, mas sim como o dirigente e agente que vem atuando desde os idos dos anos 2000. 

Entre muitas opções, a CBF conseguiu escolher uma das discutíveis, justamente pelos fatos de que ele quase não tem experiência na função, e especialmente, por ele ser um empresário, função altamente contradizente com a de um mandatário do futebol brasileiro. Seus interesses podem, ultimamente, torna-lo suspeito em qualquer convocação duvidosa. 

A mensagem que parece passar a Confederação é que importa mais a continuidade de produção de jogadores tipo exportação do que os resultados do futebol em si mesmo. Para isso, nada melhor do que um empresário mesmo. Péssimo para a qualidade do nosso time, por tabela.

Já o nosso futebol, continuará sofrendo, até que haja uma intervenção no esporte bretão. O futuro parece desalentador. 

Torço pela renovação da estrutura.

Ps: Claro, futebol uma caixinha de surpresas: Gilmar pode acabar se saindo excepcionalmente bem. Mas não é o mais provável.


quarta-feira, 16 de julho de 2014

Carta ao Amigo Tite

Caro Tite, você provavelmente não me conhece, mas ainda assim, o tomo por amigo, porque o que fez pelo meu time é algo que nunca esquecerei. Coisa de amigo mesmo. Mas não venho falar disso. Você já deve imaginar o teor desta missiva. 



Sei que existe uma grande probabilidade de você receber, nos próximos dias, alguma correspondência, algum telefone ou alguma visita da Confederação Brasileira de Futebol. Talvez você já tenha até recebido, ou esteja, neste exato momento, abrindo a correspondência com a sua faca gaúcha. 

Direto ao ponto. Trago, por meio desta, três pedidos para ti(te), que peço, encarecidamente, se quedem em consideração:

- Pense muito bem no momento atual da Seleção.
- Se for aceitar, não arrede o pé de sua exigências normais.
- Aceitando, tente promover mudanças na estrutura do nosso futebol.

Digo e repito, do fundo do coração, que talvez este seja o melhor e o pior momento para você aceitar. O grau de aprovação ao seu nome é o maior já possível. Não lhe faltará apoio do público. Você pode começar um trabalho basicamente do zero. Você pode realizar o seu sonho, presumo. 

Ao mesmo tempo, haverá uma pressão muito grande por bons resultados, e especialmente, bom futebol. Talvez as pessoas não compreendam o seu estilo de jogo, uma falsa retranca, muito alimentada pelas vitórias simples e empates que permearam o último ano. Talvez se você assumir agora e a CBF decidir interromper o seu trabalho, você não teria mais chances de usar a camisa amarela. 

Tome tudo isto em conta, e em especial, o momento turbuloso vivido pelo futebol brasileiro e pela Confederação, e pense, pense muito bem, mas muito bem mesmo. Nunca mais haverá oportunidade como esta, nos moldes que se lhe apresenta.

Se decidir aceitar, mantenha as suas exigências. Afinal, o técnico seria você, e não dirigentes, cuja maior ocupação é fazer jantares e lobby. Você será pressionado, como já disse, a apresentar resultados rápidos e jogará ante a torcidas impacientes. Mas não abandone o seu estilo, que já demonstrou, ainda que por um ano, que pode ser campeão do mundo. Claro, eu pessoalmente desejaria que você jogasse um pouquinho mais ousado! Mas sei que o futebol começa pela defesa, regra defendida por você. 

Principalmente: E, estando lá, lute por mudanças no futebol brasileiro, dos pés a cabeça. Com isso, quero dizer não só o modo como são geridas as categorias de base, mas também, em ultima ratio, o funcionamento da própria confederação. Por que alguns erros que culminaram naquela fatídica derrota teutônica por sete gols certamente não serão solucionados somente pela mudança de técnico, tenho certeza que você sabe disso. Isso inclui forma de eleições, gestão do campeonato brasileiro, regras para venda de jogadores juniores, e muito mais.

Em qualquer dos casos, aceitando ou não, ou mesmo não sendo chamado, boa sorte na sua carreira, espero que um dia volte a dirigir o meu time e quem sabe, pedir pessoalmente um autógrafo. 

Sucesso!

Sarli

Corinthians poderia pensar mais alto e manter as arquibancadas provisórias de seu novo estádio.

De certo que há questões econômicas e financeiras envolvendo o custo de manutenção de um estádio de futebol, que certamente um leigo como eu não tenho acesso neste exato momento. Para o Corinthians, imagino que a principal delas deva dizer respeito à rentabilidade do empreendimento. 



A Arena Corinthians, nome provisório até que sejam vendidos os naming rights, foi projetada desde 2011 para abrigar, no máximo 48.234 torcedores. O cálculo levou em consideração a presença dos torcedores no estádio do Pacaembu, que tem capacidade para 40.000 pessoas. Nos últimos anos de 2010, 2011 e 2012, a média de público corinthiana no campeonato brasileiro girou entre 27.000 e 30.000 pessoas por jogo.

A Copa do Mundo fez surgir a ideia das estruturas provisórias, que aumentaram a capacidade de público para 68.000. A média na Copa do Mundo foi cerca de 63.000 torcedores.

Porém, acredito que as previsões dos mandatários corinthianos de que as médias de público em torno em 40.000 pessoas no Brasileiro e no Paulistão são relativamente humildes quando se toma em consideração a paixão da torcida, o fator novidade, a proximidade com uma área tipicamente fiel e as chances de evolução do futebol brasileiro dentro de campo.

A torcida corinthiana é considerada como sendo uma das mais assíduas do mundo, especialmente nos últimos anos pós-rebaixamento. Não foram poucos os jogos que estiveram perto da máxima lotação do Pacaembu, com a agravante de que muitos torcedores ficaram de fora. Estima-se ainda um contingente de mais de 3 milhões de Corinthianos só na cidade de São Paulo. Em comparação com o Pacaembu, Itaquera é relativamente mais perto do Metrô, e especialmente se situa em uma área considerada como um dos redutos da fiel torcida: a Zona Leste

E no futuro, espero, as equipes brasileiras, se seguissem o exemplo das alemãs, poderiam voltar a encher os seus estádios com a contratação e manutenção de suas estrelas e craques, circunstância que depende também da situação financeira do país.

Então, porque não manter as estruturas provisórias, ainda que em parte? A diretoria não tem que pensar apenas na média de público, mas também nas oportunidades de que, em boa fase, mais de 60.000 torcedores quererão assistir os jogos da equipe. O aumento da lotação também poderia minimizar o preço dos ingressos, já que mais torcedores é menor gasto por pessoa. De certo que, se os ingressos a R$ 180,00 já permitem à equipe colocar 40.000 torcedores, imagine cerca de R$ 40,00, que era um preço salgado até mesmo para o Pacaembu. Seria mais justo com os torcedores que durante anos foram os que alimentaram as estatísticas da equipe.

Equipes como o Borussia Dortmund conseguem vender os seus ingressos a preços baratos, todos esgotados já no começo da temporada. A média de público dos últimos anos: 80.000 pessoas.

Não seria mais barato manter ou aumentar as cadeiras e lugares do Estádio agora, para se evitar uma reforma, que presumo, no futuro vai ser necessária e provavelmente mais cara?

Fica a dica. 

Sarli




terça-feira, 15 de julho de 2014

Copa do Mundo: 2018 preocupa

No dia 8 de julho de 2014, acabava a Copa do Mundo para o Brasil. Lembro como se fosse hoje: Galvão Bueno narrando a final de 1998 na França, dizendo que naquele momento começava a Copa de 2002. Era uma preparação para o que viria, um recomeço.

Vice-campeões em 1998, vários jogadores formariam a equipe de 2002 com a certeza que poderiam fazer diferença.
Já em 2014...


Efetivamente, foi o que aconteceu, só que depois dos 3 x 0 de Zidane, Deschamps e Petit, houveram três recomeços, com Luxemburgo, Leão, e o então contestado Felipão. Na base dos trancos e barrancos, chegamos na Copa de 2002 desacreditados e fomos campeões. Dentro das quatro linhas, muitas dificuldades, com vitórias simples ante a surpresa Turquia, mas, ao mesmo tempo, vitórias convincentes ante Inglaterra e Alemanha. Para surpresa de muita gente. Não à toa, Oliver Kahn foi eleito o melhor jogador do Mundial, que viu Ronaldo nos seus melhores dias. Parecia que os críticos imaginavam a Alemanha campeã. 

Apesar de alguns resultados ruins antes e depois da Copa, ficou a máxima de que o futebol brasileiro ainda era o melhor do mundo, em se tratando de material humano. Isso com a todas as denúncias de corrupção relativas à Nike e CBF, bombantes à época, que terminaram em pizza, e a falta de continuidade e planejamento ocorrida pré-2002.

Mas era diferente de hoje. Naquele fatídico momento, a seleção contava com ninguém mais ninguém menos que Ronaldo e Rivaldo no auge de seus respectivos futebóis (eita palavra marota), um Roberto Carlos, sempre muito bem na ofensiva, e sem comprometer a parte defensiva; São Marcos com as luvas tinindo; Cafu, um excelente lateral apoiador, mas por vezes esquecido pelos comentaristas, e claro, Ronaldinho Gaúcho começando a estourar na carreira. Conte aí quantos bons jogadores nós temos. Metade do time se poderia dizer: ótimo ou craque.

Sem falar no achado Kleberson (que jogou como nunca mais jogaria na vida), a defesa com Lúcio e Edmilson, (bons jogadores), e, na reserva, Kaká, Juninho Paulista e o quinteto corinthiano Dida, Vampeta, Luizão, Edilson e Ricardinho. 

Seis jogadores entre ótimos e craques: Ronaldo, Rivaldo, R. Gaúcho, Cafu, Marcos e Roberto Carlos. Fora isso, Kaká, Juninho Paulista, Dida, Júnior, Riicardinho, Lúcio, etc.. etc.. etc..


Em outras palavras, tinha material, talvez mais até do que em 1998, a copa que levou Doriva, Gonçalves, Zé Carlos e André Cruz no banco. Os jogadores de 2002 eram expoentes de uma geração que começou a surgir no fim dos anos 80 e especialmente começo dos anos 90. Ouso dizer, a última geração de jogadores formados no Brasil. 

Chegamos a 2014 e 2018. Muita coisa aconteceu desde então. Uma das principais é que grande parte dos jogadores que jogaram nas últimas copas são ilustres desconhecidos dos brasileiros. Hulk, Daniel Alves, David Luiz, Marcelo, Luiz Gustavo. Foram titulares na Copa do Brasil. A torcida brasileira em sua maioria, nunca ouvira falar deles antes. Onde jogam Hulk e Luiz Gustavo? Ou mesmo o Fernandinho e o Paulinho?

Ótimos jogadores: Thiago Silva e David Luiz. Craques: Neymar. Total: 3. Já o resto, jogadores bons e comuns.
Foto: Uol Esporte


Pois é. Antes mesmo de fazerem sucesso aqui na terra canarinha eles foram de mala e cuia para a Europa, em um dos maiores êxodos de promessas que presenciamos desde a gênese do futebol brasileiro. As equipes estrangeiras começaram a garimpar aqui e a disputar, se é que se pode chamar assim, ante a tamanha diferença de organização e finanças, os melhores juniores. com as equipes brasileiras Os que ficam no país também escolhem partir mais cedo. Como o zagueiro Marquinhos, do Corinthians, disputado à tapas pelos melhores times europeus. 

A mesma desorganização se repetiu desde 2010 pra cá. Mas desta vez, pior. Já não temos tanto material humano como antes. Estamos na geração das estrelas cadentes e das que não explodiram: Ronaldinho Gaúcho, Robinho, Kaká, Ganso, Lucas, Pato e Oscar.

A geração das estrelas apagadas. Kaká, Robinho, Adriano e Ronaldinho Gaúcho.
Visto de 2004, 2014 parecia promissor, amigo. Fotos: Extra


Os escândalos de corrupção se seguiram, e com a incrível goleada que tomamos da Alemanha, surgiu o questionamento de que, afinal, não somos tão bons assim. Fica a sensação que já não temos os melhores jogadores.

Eu fui atrás disto. O presente parece desalentador. Se for assim, 2018 preocupa, e muito. O G1, um dos maiores sites de notícias brasileiros, fez um esboço dentre os jogadores disponíveis para a próxima Copa, e não fiquei nada animado com as opções, que foram até generosas em termos de quantidades. Veja a lista.

Goleiros: Neto, Rafael Cabral, Diego Alves, Gabriel, Marcelo Grohe, Cassio, Diego Cavalieri, Jefferson e Victor.
Laterais: Marcelo, Alex Telles, Rafael, Alex Sandro, Danilo, Mario Fernandes, Filipe Luis e Rafinha
Zagueiros: Thiago Silva, David Luiz, Dedé, Marquinhos, Lucão, Doria, Manoel, Samir, Rafael Toloi, Juan Jesus, Miranda.
Volantes: Paulinho, Lucas Leiva, Rodrigo Caio, Lucas Silva, Luiz Gustavo, Casemiro, Romulo, Sandro, Ramires, Fernandinho, Wellington, Matheus Biteco, Anderson, Jucilei, Elias, Allan, Fernando
Meias: Oscar, Ganso, Lucas, Lucas Piazon, Talisca, Marlone, Phillippe Coutinho, Giuliano, Boschilia, Everton Ribeiro, Fred, Ricardo Goulart, Lucas Evangelista, Valdivia, Renato Augusto, Douglas Costa. 
Atacantes: Neymar, Bernard, Pato, Gabigol, Vitinho, Luan, Thalles, Marcelo, Wellington Nem, Walter, Alan Kardec, Willian, Jo

Metade destes atletas eu quase nunca ouvi falar. E olhe que costumo acompanhar os campeonatos brasileiros desde 1998. Dá pra formar um time de desconhecidos: Gabriel, Alex Sandro, Danilo, Samir, Manoel, Wellington, Fernando, Valdivia, Boschilia, Thalles e Luan. E vou queimar a língua se algum destes for titular em 2018.

Brasil foi campeão do torneio sub-20, em Toulon, na França. Mas você sabe me dizer o nome de cinco jogadores e ondem jogam, sem pesquisar no Google? Dentre eles estão Thalles, Luan, Marquinhos, Dória, Douglas Santos, Rodrigo Caio, Ademílson. Bons jogadores, mas nenhum, ainda, com a perspectiva se tornar ótimo, ou quiçá, craque.
Foto: Divulgação CBF


A seleção da galera do site é uma das tentativas mais otimistas de se fazer um time, e ainda assim peca, além da idade da defesa, pela falta de peças que façam a diferença em momentos oportunos. Sem falar da ausência de uma liderança.

Victor (35), Thiago Silva (33), David Luiz (31), Rafael (28) e Marcelo (30), Lucas (25), Oscar (26), Willian (29) e Pato (28); Neymar (26) e Alan Kardec (29).

Vamos voltar ao mesmo exercício anterior. Conte quantos jogadores que tenham jogado nível ótimo para cima e faça a comparação com 2002. Só se salvam Thiago Silva e Neymar. David Luiz também, mas fez uma copa que alternou altos (Colombia e Chile) e baixos (Alemanha e Holanda, onde jogou um futebol horrendo).  

Já Lucas, Oscar, Pato e Willian, hoje são apenas bons jogadores, estão longe de seus melhores momentos e especialmente de fazer a diferença para a seleção, quando se compara com Messi, Ribery, Robben, Van Persie, e até James Rodrigues. Alan Kardec é uma incógnita, assim como Bernard. Rafael e Marcelo não chegam aos pés de Roberto Carlos e Cafu. Victor e Jefferson no gol, longes de unanimidade.

Desde que comecei a acompanhar as Copas, nunca ao fim de uma delas senti que são poucas as opções de jogadores diferenciais. Ao fim de 2010, a renovação era Neymar, Ganso, Pato, e talvez a volta de Ronaldinho Gaucho e Kaká. Hoje, são estes três - Thiago Silva, David Luiz e Neymar, isto se estiverem jogando em alto nível. A esperança está lá em baixo

São tantos os ótimos jogadores da Alemanha quantos são os gols que o Brasil tomou: Neuer, Kroos, Muller, Neuer, Schweinsteiger, Khedira, Ozil, Gotze. E ainda, Lahm, Podolski, Mertesacker, Boateng, etc.. etc.. etc..


Já a Alemanha já tem o time pronto e relativamente jovem, suficiente para chegar em 2018 como favorita novamente. Ozil, Kroos, Khedira, Muller, Schoorle, Neuer, Lahm, Schweinsteiger, Gotze. Só para citar jogadores, que, na minha humilde opinião, são de nível ótimo para cima. Não à toa, foram campeões.

Argentina: Messi, Di Maria, Higuain e Aguero. O primeiro, craque, os outros, entre bons e ótimos. Jogadores que não estão tão novos, mas ainda assim, são uma opção melhor que a que tem o Brasil hoje

Claro, tudo isso também é reflexo da impressão deixada pelo time Brasileiro. Fosse outro técnico, menos defensivo, tivesse o Brasil goleado outras equipes, teríamos diferente opinião dos Oscares, Lucases e Willians. 

Futebol tem um gerente muito imprevisível, a alea, e o Brasil pode até ser campeão em 2018. Mas digo e sustento que a preparação para essa Copa já deveria ter começado há muito tempo. O caminho é apostar em novas revelações e tentar quem sabe, recuperar a geração perdida de jogadores que foram mais craques e os que não chegaram, mas poderiam vir a ser: Kaká, Robinho, Ronaldinho Gaúcho, Ganso, Pato, Lucas e Oscar.

Olhe a seleção que terminou a copa e escolha os jogadores ótimos e craques. Pra mim, só tem 3: Thiago Silva, Neymar e David Luiz. Muito pouco para uma seleção que já se deu ao luxo de não levar Romário. 

De certo, do time pensado hoje, em 2014, o Brasil tería uma boa defesa para 2018: mesmo saindo Thiago Silva e David Luiz, Marquinhos, Dedé e Dória dão conta do recado. O meio de campo, apesar das opções que eu já citei, está em má fase. Quase não se viu jogadas de meio desde 2010. Há bons jogadores, mas craque em forma mesmo, nenhum. 

O ataque: Neymar. Ainda há de surgir outro para lhe acompanhar.

O problema maior são o gol, os volantes e especialmente as laterais. Com sorte, surgirão bons jogadores para a posição. Mas no futebol, depender de sorte nunca é bom.

Fica a dica: investir na base para 2022. O trabalho tem que começar agora. Novos jogadores dos quais eu espero alguma evolução para daqui a 8 anos: Ricardo Goulart, Petros, Bernard, Willian, Hernane, Marquinhos, Marcelo (Atlético Paranaense). 

Até mais. 

sábado, 12 de julho de 2014

Hora da mudança no futebol canarinho.

Em 2001, o Brasil perdeu de 2 x 0 pra Honduras na Copa América, com Felipão no comando. Em 2011 e 2013, Barcelona goleou impiedosamente o Santos por 4 x 0 e 8 x 0. O Inter e o Atlético Mineiro foram derrotados por times africanos. O Corinthians, eliminado pelo Tolima. Na Copa América de 2011, o Brasil foi eliminado pelo Paraguai em um horrendo 0 x 0 e nos penalties. 

Claro, nesse meio tempo o Brasil colecionou títulos da Copa das Confederações e a Copa de 2002.

Mas todos os resultados são indicativos de uma crise, que agora neste ano de 2014, em pleno território brasileiro, estourou em ridículos 10 gols tomados nas atuações mais horrendas que eu vi em toda a minha vida. 7 x 1 para a Alemanha e 3 x 0 para a Holanda. 


A mudança é necessária, dos pés à cabeça, ou seja, da CBF às categorias de Base. O projeto Alemão, fundado em 1998 após a derrota de 3 x 0 para a Croácia, é um exemplo que serve de inspiração, mas não deve ser tomado por completo - as circunstâncias são semelhantes mas não de todo igual.

Muito circula sobre a revolução Alemã nesse sentido. O Campeonato Alemão tem a melhor média de público do mundo, e não a toa a equipe chegou à final. Eles investiram em mais de 1.000 campos para beneficiar as categorias de base, tornaram o futebol um bem do povo e estabeleceram um controle financeiro sobre os clubes e campeonatos. 

Olhe para esta edição da Copa do Mundo, e conte quantos jogadores acima da média tem o Brasil, Basicamente é a zaga, Thiago Silva e David Luiz (que jogaram um futebol sofrível) e o Neymar. Já na Alemanha, só citando os jogadores de meia já temos cinco grandes nomes: Ozil, Khedira, Muller, Kroos, Schweinsteiger, fora os potenciais Gotze e Reus. No ataque, Podolski, Klose e Schurrle. 

Com tudo isso, ainda assim a Alemanha pode ser vice campeã, porque nome não é tudo. Mas um bom elenco com certeza é um bom começo para ser campeão. 

A Copa do Mundo foi um marco de mal futebol nos ultimos jogos, pelo lado da Seleção Brasileira. Mas também pode ser um marco de recomeço. Trata-se de uma janela que não haveria de ser aberta em anos, afinal, ainda assim aparecem jogadores de bom nível no Brasil (cada vez em numero menor, todavia). 

Para começar, a seleção  brasileira deve ser um patrimônio nacional, e como tal, o dinheiro recebido pela CBF deve ser vertido em investimento no Futebol. Mas o destino de onde vai essa bufunfa é cinzento e inclui contratos duvidosos. Então, o próximo passo é auditoria financeira na CBF e entidades.

Parte do dinheiro ainda deveria ajudar os clubes na manutenção dos bons jogadores. Não apenas os jogadores de Série A, mas também os da segunda e terceira divisão e times do interior. Não devemos esquecer, muitos dos nossos jogadores são oriundos dos times pequenos.

Maior atenção às categorias de base. Os jogadores brasileiros são tipo exportação. Eles servem aos times estrangeiro e muitas vezes vão reforçar a seleção de outro país porque as condições são melhores. Quem ganha com isso são apenas os empresários, que estão interessados mais no retorno e lucro do que na qualidade. Com isso, criamos muito mais zagueiros e meias para jogarem fora daqui, e menos técnica e ginga, que foram a nossa marca durante anos. Os melhores zagueiros do mundo são brasileiros, mas os nossos meias e atacantes estão em decadência. 

O controle financeiro não deve se ater apenas à seleção brasileira. É necessária faxina administrativa nos clubes e meios para torna-los mais independentes da cota da TV, e trazer de volta os torcedores ao Estádio.

A manutenção de Felipão, como anunciada na imprensa, não é um bom sinal. É necessário um choque também na parte técnica. Um treinador brasileiro poderia servir, mas os nomes são poucos. Concordo com parte da imprensa que uma mente estrangeira pode dar novos ares. Mourinho, Jorge Sampaoli, ou até o técnico da Costa Rica. 

Por fim, a mudança no calendário, de forma a privilegiar mais o futebol praticado do que a quantidade de partidas. Deve-se, contudo, levar em conta que o Brasil, ao contrário dos países europeus, tem 12 times em condições de disputar o titulo nacional, e talvez um campeonato com 20 times seja insuficiente para isso. 


quarta-feira, 9 de julho de 2014

O que aconteceu no 8 de julho de 2014.

Brasil 1 x 7 Alemanha.


Blitz Alemã. Foto: Diário de Pernambuco

Um desastre futebolístico, a maior humilhação pela qual passou o futebol brasileiro em todos os tempos. Não deveria ter um ponto final aí. Muito se fala do resultado. Mas, e o jogo em si? Nós apenas mostramos os 7 gols e nos lamentamos. Como quando se passa um terremoto e nós simplesmente choramos os mortos. Mas espera, como aconteceu?

Vamos aos fatos do jogo. Vou resumir o que aconteceu em meu ponto de vista.

Dentro do campo:

1. Uma formação que nunca jogou junta. Felipão não fez nenhum treino com a zaga formada por Dante e David Luiz. 
Ou seja, muito comercial e pouco treino. 

2. Ausência de marcação fixa
É fácil falar em apagão do time, quando o que se repara fora que nos cinco primeiros gols, a zaga bateu cabeça e marcou a bola ao invés dos jogadores. Coisa de várzea mesmo. 
Veja o link abaixo. Todos os jogadores alemães que fizeram os gols se encontram absolutamente livres, sem marcação de qualquer brasileiro, seja de zaga ou de sobra.


Esse é um defeito tático que não é visto em Copas do Mundo desde as décadas de 80, a última em que eram vistas grandes goleadas. A frase: não existe bobo no futebol é mais do que verdadeira. Seleções como a Austrália e outras africanas, que antes eram sumariamente goleadas, hoje aprenderam a se defender. Só o Brasil jogou como bobo.

3. Falta de um capitão
Normalmente em qualquer time, quando a equipe toma um gol bobo como o primeiro, oriundo de um escanteio, um jogador, como o goleiro ou o capitão, dá um esporro enorme do time, cobrando atenção. Em todos os gols tomados pelo Brasil, ninguém tomou as rédeas da situação, ninguém tomou a responsabilidade para fazer a equipe acordada. 

4. Ligação direta entre zaga e ataque
Se até a Colômbia o Brasil conseguiu de alguma forma driblar este problema, ainda assim ele não deixa de ser crônico. Dos cinco gols que tomou no primeiro tempo, três foram oriundos de bolas alçadas direto da defesa ao ataque, que aliadas à falta de marcação e sobra, tornaram fácil a tarefa da Alemanha marcar gols.

5. Atacantes sem função.
Fred e Hulk foram expostos ao ridículo nesta Copa do Mundo, assim como Jô e qualquer um que entrasse. Não à toa, excetuando Neymar, os jogadores mais admirados nesta edição foram Thiago Silva e David Luiz, zagueiros. No futebol moderno, a marcação começa pelos atacantes. Porém, os brasileiros foram posicionados de forma que não marcavam a saída de bola do adversário e ao mesmo tempo estavam isolados do meio de campo. Mais uma falha de Felipão.

6. Falta de peças diferentes.
O time que foi levado para a Copa é praticamente o mesmo que ganhou o torneio das Confederações do ano passado. No entanto, um ano é muito tempo, em termos de futebol, e pode significar a má fase de jogadores que antes estavam bem. É o caso de Oscar, Fred, Hulk, Paulinho. 

Fora de campo:
1. Grande distanciamento entre técnico e time.
A mídia tergiversou, mas Felipão disse o que disse: não teria levado um dos jogadores que foi à Copa do Mundo. Essa declaração certamente não só não surtiu o efeito desejado por ele como deixou muitos jogadores insatisfeitos. 

2. Falta de apoio de dirigentes a Felipão e aos jogadores.
A malfadada direção da CBF, já aos trancos e barrancos nessa Copa do Mundo deixou isolado o técnico da Seleção em momentos cruciais  

3. A falsa criação de uma identidade entre time e torcedores.
As campanhas publicitárias dispararam antes da Copa. Só se falava em Hexa. Hulk, Fred e outros que não jogaram estrelaram comerciais. A rede Globo tentou criar artificialmente um hino para a torcida. Antes da Copa, uma atmosfera broxante do público brasileiro, que contrastava com o Brasil dos comerciais. Não vai ter Copa era um dictum comum. Outros desprezavam esta edição, apesar de ser em nosso país, em decorrência de escândalos e corrupção. Claro, todos com seus motivos.
Mas essa situação contaminou os jogadores. Até que a torcida passasse a torcer efetivamente pelo Brasil, passaram-se cinco jogos. O gol de David Luiz fez o país esquecer destas questões por um tempo. Bastou o segundo gol da Alemanha e a torcida também sofreu o apagão.Já era tarde demais. 
Isso já vem desde idos de 1990. 


Prenúncios do futuro.
Uma goleada vexatória. Porém, não se deve jogar o bebê junto com a água quente. A Seleção não foi apenas defeitos. Caso contrário não teria sequer chegado na semi-final. Houve benesses que não devem ser abandonadas. Tomar sete gols foi o resultado de muitas coisas erradas que se acumulavam, mas as que trouxeram o Brasil ao título da Copa da Confederações e a semifinal não podem ser esquecidas. Como a zaga formada por David Luiz e Thiago Silva, as jogadas de Neymar e Oscar, e Bernard como revelação. Aliás, este jogador não pode ser culpado pelo que aconteceu.