terça-feira, 15 de julho de 2014

Copa do Mundo: 2018 preocupa

No dia 8 de julho de 2014, acabava a Copa do Mundo para o Brasil. Lembro como se fosse hoje: Galvão Bueno narrando a final de 1998 na França, dizendo que naquele momento começava a Copa de 2002. Era uma preparação para o que viria, um recomeço.

Vice-campeões em 1998, vários jogadores formariam a equipe de 2002 com a certeza que poderiam fazer diferença.
Já em 2014...


Efetivamente, foi o que aconteceu, só que depois dos 3 x 0 de Zidane, Deschamps e Petit, houveram três recomeços, com Luxemburgo, Leão, e o então contestado Felipão. Na base dos trancos e barrancos, chegamos na Copa de 2002 desacreditados e fomos campeões. Dentro das quatro linhas, muitas dificuldades, com vitórias simples ante a surpresa Turquia, mas, ao mesmo tempo, vitórias convincentes ante Inglaterra e Alemanha. Para surpresa de muita gente. Não à toa, Oliver Kahn foi eleito o melhor jogador do Mundial, que viu Ronaldo nos seus melhores dias. Parecia que os críticos imaginavam a Alemanha campeã. 

Apesar de alguns resultados ruins antes e depois da Copa, ficou a máxima de que o futebol brasileiro ainda era o melhor do mundo, em se tratando de material humano. Isso com a todas as denúncias de corrupção relativas à Nike e CBF, bombantes à época, que terminaram em pizza, e a falta de continuidade e planejamento ocorrida pré-2002.

Mas era diferente de hoje. Naquele fatídico momento, a seleção contava com ninguém mais ninguém menos que Ronaldo e Rivaldo no auge de seus respectivos futebóis (eita palavra marota), um Roberto Carlos, sempre muito bem na ofensiva, e sem comprometer a parte defensiva; São Marcos com as luvas tinindo; Cafu, um excelente lateral apoiador, mas por vezes esquecido pelos comentaristas, e claro, Ronaldinho Gaúcho começando a estourar na carreira. Conte aí quantos bons jogadores nós temos. Metade do time se poderia dizer: ótimo ou craque.

Sem falar no achado Kleberson (que jogou como nunca mais jogaria na vida), a defesa com Lúcio e Edmilson, (bons jogadores), e, na reserva, Kaká, Juninho Paulista e o quinteto corinthiano Dida, Vampeta, Luizão, Edilson e Ricardinho. 

Seis jogadores entre ótimos e craques: Ronaldo, Rivaldo, R. Gaúcho, Cafu, Marcos e Roberto Carlos. Fora isso, Kaká, Juninho Paulista, Dida, Júnior, Riicardinho, Lúcio, etc.. etc.. etc..


Em outras palavras, tinha material, talvez mais até do que em 1998, a copa que levou Doriva, Gonçalves, Zé Carlos e André Cruz no banco. Os jogadores de 2002 eram expoentes de uma geração que começou a surgir no fim dos anos 80 e especialmente começo dos anos 90. Ouso dizer, a última geração de jogadores formados no Brasil. 

Chegamos a 2014 e 2018. Muita coisa aconteceu desde então. Uma das principais é que grande parte dos jogadores que jogaram nas últimas copas são ilustres desconhecidos dos brasileiros. Hulk, Daniel Alves, David Luiz, Marcelo, Luiz Gustavo. Foram titulares na Copa do Brasil. A torcida brasileira em sua maioria, nunca ouvira falar deles antes. Onde jogam Hulk e Luiz Gustavo? Ou mesmo o Fernandinho e o Paulinho?

Ótimos jogadores: Thiago Silva e David Luiz. Craques: Neymar. Total: 3. Já o resto, jogadores bons e comuns.
Foto: Uol Esporte


Pois é. Antes mesmo de fazerem sucesso aqui na terra canarinha eles foram de mala e cuia para a Europa, em um dos maiores êxodos de promessas que presenciamos desde a gênese do futebol brasileiro. As equipes estrangeiras começaram a garimpar aqui e a disputar, se é que se pode chamar assim, ante a tamanha diferença de organização e finanças, os melhores juniores. com as equipes brasileiras Os que ficam no país também escolhem partir mais cedo. Como o zagueiro Marquinhos, do Corinthians, disputado à tapas pelos melhores times europeus. 

A mesma desorganização se repetiu desde 2010 pra cá. Mas desta vez, pior. Já não temos tanto material humano como antes. Estamos na geração das estrelas cadentes e das que não explodiram: Ronaldinho Gaúcho, Robinho, Kaká, Ganso, Lucas, Pato e Oscar.

A geração das estrelas apagadas. Kaká, Robinho, Adriano e Ronaldinho Gaúcho.
Visto de 2004, 2014 parecia promissor, amigo. Fotos: Extra


Os escândalos de corrupção se seguiram, e com a incrível goleada que tomamos da Alemanha, surgiu o questionamento de que, afinal, não somos tão bons assim. Fica a sensação que já não temos os melhores jogadores.

Eu fui atrás disto. O presente parece desalentador. Se for assim, 2018 preocupa, e muito. O G1, um dos maiores sites de notícias brasileiros, fez um esboço dentre os jogadores disponíveis para a próxima Copa, e não fiquei nada animado com as opções, que foram até generosas em termos de quantidades. Veja a lista.

Goleiros: Neto, Rafael Cabral, Diego Alves, Gabriel, Marcelo Grohe, Cassio, Diego Cavalieri, Jefferson e Victor.
Laterais: Marcelo, Alex Telles, Rafael, Alex Sandro, Danilo, Mario Fernandes, Filipe Luis e Rafinha
Zagueiros: Thiago Silva, David Luiz, Dedé, Marquinhos, Lucão, Doria, Manoel, Samir, Rafael Toloi, Juan Jesus, Miranda.
Volantes: Paulinho, Lucas Leiva, Rodrigo Caio, Lucas Silva, Luiz Gustavo, Casemiro, Romulo, Sandro, Ramires, Fernandinho, Wellington, Matheus Biteco, Anderson, Jucilei, Elias, Allan, Fernando
Meias: Oscar, Ganso, Lucas, Lucas Piazon, Talisca, Marlone, Phillippe Coutinho, Giuliano, Boschilia, Everton Ribeiro, Fred, Ricardo Goulart, Lucas Evangelista, Valdivia, Renato Augusto, Douglas Costa. 
Atacantes: Neymar, Bernard, Pato, Gabigol, Vitinho, Luan, Thalles, Marcelo, Wellington Nem, Walter, Alan Kardec, Willian, Jo

Metade destes atletas eu quase nunca ouvi falar. E olhe que costumo acompanhar os campeonatos brasileiros desde 1998. Dá pra formar um time de desconhecidos: Gabriel, Alex Sandro, Danilo, Samir, Manoel, Wellington, Fernando, Valdivia, Boschilia, Thalles e Luan. E vou queimar a língua se algum destes for titular em 2018.

Brasil foi campeão do torneio sub-20, em Toulon, na França. Mas você sabe me dizer o nome de cinco jogadores e ondem jogam, sem pesquisar no Google? Dentre eles estão Thalles, Luan, Marquinhos, Dória, Douglas Santos, Rodrigo Caio, Ademílson. Bons jogadores, mas nenhum, ainda, com a perspectiva se tornar ótimo, ou quiçá, craque.
Foto: Divulgação CBF


A seleção da galera do site é uma das tentativas mais otimistas de se fazer um time, e ainda assim peca, além da idade da defesa, pela falta de peças que façam a diferença em momentos oportunos. Sem falar da ausência de uma liderança.

Victor (35), Thiago Silva (33), David Luiz (31), Rafael (28) e Marcelo (30), Lucas (25), Oscar (26), Willian (29) e Pato (28); Neymar (26) e Alan Kardec (29).

Vamos voltar ao mesmo exercício anterior. Conte quantos jogadores que tenham jogado nível ótimo para cima e faça a comparação com 2002. Só se salvam Thiago Silva e Neymar. David Luiz também, mas fez uma copa que alternou altos (Colombia e Chile) e baixos (Alemanha e Holanda, onde jogou um futebol horrendo).  

Já Lucas, Oscar, Pato e Willian, hoje são apenas bons jogadores, estão longe de seus melhores momentos e especialmente de fazer a diferença para a seleção, quando se compara com Messi, Ribery, Robben, Van Persie, e até James Rodrigues. Alan Kardec é uma incógnita, assim como Bernard. Rafael e Marcelo não chegam aos pés de Roberto Carlos e Cafu. Victor e Jefferson no gol, longes de unanimidade.

Desde que comecei a acompanhar as Copas, nunca ao fim de uma delas senti que são poucas as opções de jogadores diferenciais. Ao fim de 2010, a renovação era Neymar, Ganso, Pato, e talvez a volta de Ronaldinho Gaucho e Kaká. Hoje, são estes três - Thiago Silva, David Luiz e Neymar, isto se estiverem jogando em alto nível. A esperança está lá em baixo

São tantos os ótimos jogadores da Alemanha quantos são os gols que o Brasil tomou: Neuer, Kroos, Muller, Neuer, Schweinsteiger, Khedira, Ozil, Gotze. E ainda, Lahm, Podolski, Mertesacker, Boateng, etc.. etc.. etc..


Já a Alemanha já tem o time pronto e relativamente jovem, suficiente para chegar em 2018 como favorita novamente. Ozil, Kroos, Khedira, Muller, Schoorle, Neuer, Lahm, Schweinsteiger, Gotze. Só para citar jogadores, que, na minha humilde opinião, são de nível ótimo para cima. Não à toa, foram campeões.

Argentina: Messi, Di Maria, Higuain e Aguero. O primeiro, craque, os outros, entre bons e ótimos. Jogadores que não estão tão novos, mas ainda assim, são uma opção melhor que a que tem o Brasil hoje

Claro, tudo isso também é reflexo da impressão deixada pelo time Brasileiro. Fosse outro técnico, menos defensivo, tivesse o Brasil goleado outras equipes, teríamos diferente opinião dos Oscares, Lucases e Willians. 

Futebol tem um gerente muito imprevisível, a alea, e o Brasil pode até ser campeão em 2018. Mas digo e sustento que a preparação para essa Copa já deveria ter começado há muito tempo. O caminho é apostar em novas revelações e tentar quem sabe, recuperar a geração perdida de jogadores que foram mais craques e os que não chegaram, mas poderiam vir a ser: Kaká, Robinho, Ronaldinho Gaúcho, Ganso, Pato, Lucas e Oscar.

Olhe a seleção que terminou a copa e escolha os jogadores ótimos e craques. Pra mim, só tem 3: Thiago Silva, Neymar e David Luiz. Muito pouco para uma seleção que já se deu ao luxo de não levar Romário. 

De certo, do time pensado hoje, em 2014, o Brasil tería uma boa defesa para 2018: mesmo saindo Thiago Silva e David Luiz, Marquinhos, Dedé e Dória dão conta do recado. O meio de campo, apesar das opções que eu já citei, está em má fase. Quase não se viu jogadas de meio desde 2010. Há bons jogadores, mas craque em forma mesmo, nenhum. 

O ataque: Neymar. Ainda há de surgir outro para lhe acompanhar.

O problema maior são o gol, os volantes e especialmente as laterais. Com sorte, surgirão bons jogadores para a posição. Mas no futebol, depender de sorte nunca é bom.

Fica a dica: investir na base para 2022. O trabalho tem que começar agora. Novos jogadores dos quais eu espero alguma evolução para daqui a 8 anos: Ricardo Goulart, Petros, Bernard, Willian, Hernane, Marquinhos, Marcelo (Atlético Paranaense). 

Até mais. 

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