terça-feira, 22 de julho de 2014

Dunga e as três teorias aplicáveis do que não fazer na organização de uma equipe.

O título também poderia ser: a falta de continuidade na seleção Canarinho.

Hoje, terça-feira, 22 de julho de 2014, a CBF dará continuidade ao "projeto" para a Copa de 2018. Trata-se de um novo velho técnico: o Dunga. Campeão mundial como jogador em 1994, jogador símbolo de uma geração que jogava feio (1990), e ex-técnico da Seleção que caiu nas quartas-de-final na Copa de 2010, Carlos Caetano Bledorn Verri está de volta ao comando da Seleção Brasileira. 

Dunga foi um dos comandantes da busca de renovação no Brasil para a Copa de 2010. Esperava-se a criação de um grupo com fome de bola, ao contrário da equipe que jogou na Copa de 2006, mais conhecida pelas festas e jogadores fora do peso do que pelo seu futebol. É o que dizia a imprensa da época acerca de Ronaldinho e cia., com o que discordo. 




Jogamos 2010 com um título de Copa América e outro de Copa das Confederações na carteira, ambos passando por cima da Argentina, o que carimbou o passaporte de Dunga para a Copa do Mundo, apesar de um futebol mais afeto aos resultados e menos à qualidade. Esta condição, claro, pesou nas críticas da imprensa, que já em clara animosidade com o ex-treinador, um defensor do elenco que batia de frente com os veículos televisivos, aplaudiu a sua demissão do comando da equipe, como se o problema fosse apenas ele. 

Ao contrário desta parcela da imprensa, acredito que Dunga, em parte, foi injustiçado. A seleção apresentava bons resultados e tinha potencial para crescer, apesar da derrota para a Holanda. É certo: Dunga nunca fora técnico antes e mesmo assim não fez um trabalho ruim. Mas talvez a pressão por ganhar 2014, e ainda, o descontentamento de algumas TV fizessem com que o seu ciclo se encerrasse mais cedo. 

Isso não acontece, por exemplo, na Alemanha, França ou Espanha, em que o fato de ter caído nas semifinais ou quartas-de-final não significa que o treinador deva ser demitido. Lá, o conceito de projeto é muito diferente do nosso. 

Apreciei o trabalho de Dunga. Mas não creio ser o técnico ideal para o momento, em que se busca justamente a renovação da forma de se jogar. Parece que o intuito da CBF é cada vez mais se enclausurar contra as influências do Bom Senso, mídia e comentaristas de futebol. Qualquer influxo de mudança é visto com hojeriza em Comary. Por isso, um ex-jogador conhecido por fechar o grupo. 


Em resumo: Creio que Dunga pode fazer um bom trabalho, mas os defeitos estruturais ainda estão aí, o 7 x 1 ainda está aí. Este, como Jason, pode voltar mais uma vez. 

Voltamos então, à mesma estaca de 2006. Vamos renovar a equipe. Começar de novo. Mas deveríamos, na realidade, pensar já em 2022. Não se forma um grupo campeão em apenas quatro anos. 

O futebol brasileiro, representado pela CBF, ainda padece de alguns graves defeitos de organização, quando comparado ao Europeu. Aponto aqui três. 

1 - Jogar o Bebê com a água fora com a água do banho. Trata-se de um ditado bem brasileiro, apesar de ter surgido na Inglaterra. Como quando vai se banhar o nenem, mas a água está quente demais para ele, e termina-se jogando tanto a água quanto o bebê fora. É o que acontece na seleção brasileira há tempos. As mudanças atingem tanto muitos defeitos quanto muitas qualidades da equipe prejudicada. Em 2006, queria-se renovação, menos agitação e mais raça. Com isso, alguns dos nossos melhores astros, como Ronaldinho Gaúcho, deixaram de ser convocados e não foram para a Copa de 2010. Em 2014, novamente, abandonamos o planejamento feito em 2006/2007, para começar outro em 2011, e outro em 2012. Disto decorre a segunda teoria.

2 - Cortar um planejamento no meio. No Brasil, parece ser regra que os resultados em títulos importam muito mais do que os resultados de vitória ou mesmo o futebol jogado. Quando Mano Menezes engrenava, em 2012, trocaram-no por Felipão. Isso já deu certo antes, em 2002, mas na época tínhamos dois jogadores eleitos os melhores do mundo, um que ficou entre os três por anos e outros medalhões. Se Dunga não fez uma Copa ruim em 2010, era melhor tê-lo mantido, a fim de colher os frutos que nem sempre surgem em apenas 4 anos. Olhe a seleção da Alemanha que conta com o mesmo técnico desde antes da Copa de 2010, e mesmo assim o manteve com o terceiro lugar. No Brasil, ou se é campeão, ou se troca o time inteiro. 

3 - Apostar em medalhões para afastar crises. Não haveria problema algum se fosse apenas isso. Mas muitas vezes se aposta em jogadores ou treinadores tarimbados somente para afastar a ideia de renovação estrutural ou para aplacar a pressão da imprensa e torcedores. Pensa-se menos na qualidade técnica da mudança ou do salvador da pátria do que na figura de para-raios que ele(s) manterá(ão) durante algum tempo. Dunga é um exemplo disso, e talvez não haja para-raios melhor do que ele, agora que Felipão saiu. Pode não ser o melhor técnico do mundo, mas certamente as atenções começaram a se voltar muito mais para ele do que para a CBF. Que ganha um valioso tempo com isso, em detrimento do nosso futebol, que fica, ali, escondido, na moita, desde 1982. 


Nenhum comentário:

Postar um comentário